Meu muleque



Tenho saudades daquele moleque que fui. Não que ele tenha sido mais feliz ou que suas manhãs foram sempre cheias de sol. Tenho saudades daquela pequenesa estranha. De novidades simples de quem sabe tão pouco e quer muito viver. Tenho saudade de achar que os sapos eram seres terríveis e que espirravam um líquido mortal se o tocássemos. Ou que manga com leite podia realmente fazer mal. Ou que meu avô perdera o que tinha por causa do feitiço de uma cigana. De que na semana das dores não se podia jogar bola porque se você machucasse, demoraria a sarar. Saudade de quando eu tinha certeza aos seis, que a Clara de 14 era minha namorada. E de saber que ela mentiu pra mim quando a vi com o Eduardo de 15. Ou quando um amigo me disse no auge de seus 7 anos, que se colocássemos um cabelo comprido numa garrafa de água, depois de um tempo, nasceria uma taturana! Saudade da tia Matilde que sempre me perguntava: "O que é o que é ? Uma caxinha de bom parecer, que nenhum carpinteiro possa fazer ?" E eu não cansava de responder: "Um amendoim, ora!". De hipnotizar galinhas que ficavam "quitinhas, quitinhas"... Dos carrinhos de lata que só tio Marquinhos sabia fazer. De saber que meu pai andou de avião! E de que minha mãe enfrentou tempestades enormes nas grotas do Rio Preto. Da grandeza de um Valadares com suas luzes de natal. Saudade de uma miríade de coisas que eu acolhia sem muito entender. Do toque singelo de minha curiosidade. Dos sustos que me permitia ao saber que a vida era sempre outra coisa... Hoje vejo aquela criança sentada com seus dois olhos enormes, a boca levemente aberta e as suas pequenas mãos, estendidas. Sobre o Fim da História ela não tem nada a dizer. Mas a ela recorro sabe quando as coisas apertam.

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Mais um blog, mais um dia... Preciso explicar o que me vem a ser um dia, para que talvez nos entendamos. Um dia não tem 24 horas. Nem é possível mensurá-lo, ainda que nele haja tempo. Um dia pode durar uma semana, um ano ou um mês. As vezes, um dia, dura toda uma vida. Um dia é todo instante em que o tempo se marca dentro de nós, ou fora. Um dia é toda vez que fisgamos o tempo antes dele se soltar do anzol. Um dia é toda vez que somos fisgados pelo tempo antes de nos soltarmos. Um dia é quando se percebe que o tempo existe, ainda que nem mesmo vejamos sua passagem, intangível. Quanto tempo durou meu último dia? Não sei dizer. Acho que durou uns beijos, alguns abraços e uma volta feliz para casa. Durou alguns segundos antes que eu adormecesse. Durou o sorriso que dei assim que acordei. Já tive dias que duraram meses... Em que o tempo se marcava entre as escovações de dentes necessárias e o banho que se havia de tomar... Então esse é meu blog. Se gostaram, não esperem o que haverá de novo, amanhã. Tudo dependerá da duração do dia.

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